quinta-feira, 21 de outubro de 2010

100 anos da tia Anunciação


Gostaria de homenagear uma grande mulher, uma grande mãe e um grande elemento para a comunidade do Pereiro. A tia Anunciação faz hoje 100 anos. Um número tão redondo, mas ao mesmo tempo um número realmente grande, 100 anos é uma idade com muitos acontecimentos, tanto pessoais ( filhos, perdas, dificuldades financeiras) como histórica ( a Grande Guerra, o Salazar, a Democracia, o Euro).

Assim, a freguesia do Pereiro, gostava de dar um grande abraço à tia Anunciação e desejar um BOM ANIVERSÁRIO.

Gostaria de informar que no dia 23 de Outubro haverá um convívio /comemoração do centenário da tia Anunciação para toda a comunidade e amigos. Haverá missa pelas 12h seguidamente será servido o almoço no Centro de Dia do Pereiro.

2 comentários:

Unknown disse...

Fazes hoje um século de vida. Conheço-te, seguramente, há meio século.Sempre com a voz meiga e com o mesmo sorriso nos lábios quando me cruzava contigo, madrinha, e me respondias ..."que Deus te abençoe", ao meu pedido "Dê-me a sua benção". Hoje sou eu, o teu afilhado Manuel, a dizer-te que "Deus te continue a abençoar, Madrinha"
Manuel Elísio

C P disse...

Anunciação de Jesus – 100 anos de vida

Vagueiam na minha mente lembranças esporádicas. O mais importante para mim, é o facto de ainda me lembrar, sim ter depois deste tempo todo a lucidez necessária para ainda recordar este longo percurso de vida. Ainda não esqueci, aliás, ainda contemplo os campos todos devidamente cultivados de centeio, de batatas e videiras. Não havia um palmo de terra sequer que não fosse tratado. Recordo os meus pais e meu irmão que diariamente faziam o percurso do moinho, ora levando o divino grão, ora regressando com a valiosa farinha que uma vez amassada, daria para matar a fome de toda a gente do Pereiro, depois de o delicioso pão ter sido devidamente cozido no forno comunitário que ainda hoje é lugar de divinais banquetes. Quando a água faltava na ribeira, tinham que moer no rio Côa, percorrendo bredas que os machos já conheciam, pois estavam habituados a fazer o percurso carregados com as fanegas de centeio.
Comecei muito nova a servir, a vida assim me ensinou os caminhos dificeis que teria que percorrer. A casa onde comecei a trabalhar marcou-me muito, pois casei com um dos filhos do senhor que me deu trabalho e, por lá fiquei. Nessa altura não se viajava como agora, o nosso mundo estava circunscrito á lide de casa, e ao percurso até aos terrenos onde iamos levar a merenda aos homens que labutavam a terra. Duas vezes por semana, ás vezes três, conforme as necessidades também viajavamos até á ribeira onde iamos lavar a roupa, por vezes sózinha, outras vezes acompanhada de uma das minhas futuras cunhadas. O nosso imenso mundo era este vasto território, que se estendia ainda mais quando iamos ás feiras de ano á sede de concelho. Designios do destino, cedo me casei e bastante cedo perdi o meu marido, mas ainda a tempo de me deixar acompanhada de tantos filhos que os dedos de uma só mão não chegam para os contar, tendo o mais novo na altura da sua morte dois anitos. Hoje seria muito difícil educá-los, nessa altura também não era fácil, havia uma diferença, como viviamos sem nada, eramos felizes, cultivava-mos a humildade e a união, e nunca ouve zangas por causa da fartura.
De repente abro os olhos, creio que estou a sonhar, passados cem anos de ter nascido, vejo á minha frente uma mesa repleta de iguarias, tanta fartura que nunca me acompanhou, mas que agora está bem presente. Contudo a maior fartura, o maior contentamento é ver-me rodeada, de meus filhos, de meus netos, de tantos sobrinhos, enfim de todos os familiares e pessoas amigas que neste momento da minha vida, me prestam esta bonita homenagem. Depois de me acompanharem numa missa, e de asinalarem este meu aniversário com uma placa comemorativa, ei-los aqui á minha frente a confraternizar comigo. Os meus agradecimentos a estas 130 pessoas. Será que foi mesmo assim, não sei, não deve ter sido, só posso estar a sonhar...
C. P.